5. Intersetorialidade do SUS
Acadêmico José Aristeu de Andrade
Conferência realizada no dia 17 de abril de 2004, na Pousada do Garimpo, em Diamantina.
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
O conceito de saúde emanado da VIII Conferência Nacional de Saúde (Brasília, 1986) cristalizou-se na Constituição Federal em 1988 surgindo os pilares doutrinários e organizacionais do SUS (Sistema Único de Saúde), definidos pelas leis federais 8.080 e 8.142, de 1990.
No tocante à saúde, supera-se não só o conceito maniqueísta que contrapõe biologicamente saúde e doença, como detalha-se melhor, dentro de uma perspectiva conjuntural histórica, o antigo conceito difundido pela OMS (Organização Mundial de Saúde), que associa saúde ao “ completo bem-estar físico, mental e social”. Ela passa a ser considerada resultante das ações de fatores determinantes e condicionantes que não só os biológicos; admite a interação mútua de fatores ambientais, sócio-econômico-culturais e de acesso aos serviços de saúde no palco de instalação, permanência e evolução das doenças.
De fato, a saúde está diretamente ligada à modalidade de inserção social, constituindo-se num dos fatores essenciais ao pleno exercício dos direitos de cidadania, e reveladora do estágio de evolução democrática de nossa sociedade.
No planejamento do sistema local de saúde, é forçoso submetê-lo às bases doutrinárias e organizacionais do SUS: buscar-se-á um sistema que seja universal e equânime no atendimento à sua clientela. Isto traduz-se em um serviço de saúde acessível à toda a população, independente da condição social, raça ou credo religioso, e que, no trato desta sua clientela, dispense a todos o mesmo atendimento em termos de qualidade, na busca da resolutividade de seus problemas. Mais ainda, que este atendimento seja integral, em substituição a um modelo ultrapassado e sustentado somente na atenção curativa. Assim, paralelamente às ações curativas (que ainda se fazem necessárias), inserem-se entre as atribuições do sistema de saúde, a sua plena promoção e a sua proteção contra os agravos.
Passam a constituir uma preocupação rotineira dos mesmos, a proteção ambiental (vigilância sanitária e epidemiológica) e a educação para a saúde, que reabilita a consciência individual e coletiva dos usuários para a sua parcela de responsabilidade na promoção do bem-estar coletivo.
Para seu pleno funcionamento, o sistema de saúde deverá organizar-se dentro da perspectiva da regionalização e hierarquização, ser resolutivo e permitir uma administração descentralizada, com pleno e efetivo controle social.
A regionalização constitui a possibilidade de integrar unidades assistenciais ambulatoriais e hospitalares, numa área geográfica definida e com população claramente adstrita, articulados internamente em seus diversos níveis de complexidade crescente (hierarquização), permitindo uma adequada referência e contra-referência entre eles.
Esta hierarquização acarretará um aprimoramento da resolutividade do sistema em seus diversos níveis, que assim dará conta de resolver os principais problemas, dentro de sua infra-estrutura.
A descentralização administrativa permitirá a participação da população usuária na tarefa de efetivamente co-gerenciar o sistema, definir suas prioridades de ação, através da atuação responsável do Conselho Municipal de Saúde. A atuação do Conselho Municipal de Saúde de uma maneira participativa evitará a freqüente busca de soluções tipo “mutirão”, que são imediatistas e que não cogitam alterações fundamentais na estrutura social, essenciais para a evolução positiva da sociedade. Evita ainda os riscos da submissão do sistema de saúde a interesses corporativos e individuais, em prejuízo das reais necessidades e aspirações de quem, no final das contas, mantém e financia este sistema através dos impostos pagos direta e indiretamente.
Afasta-se por fim os malefícios da “prefeiturização”, que busca condicionar as ações de saúde ao fisiologismo e clientelismo político-partidários.
Por fim, o sistema de saúde almejado deve contar com os serviços privados (filantrópicos preferencialmente) atuando de forma complementar ao serviço público, contratados sob a égide do direito público, e submetidos criteriosamente à lógica organizacional e administrativa do SUS, com definição clara de suas atribuições e competência, numa parceria que vise antes de mais nada, a satisfação das necessidades da população usuária. Assim, dentro do SUS, os serviços privados devem trabalhar como se público fossem, e o interesse público deve sobrepor-se ao interesse privado.
Intersetorialidade do SUS
Educação
Ecologia
Saneamento Básico
Outros setores coadjuvantes (Políticas de Saúde, Combate à carência, Medicina profilática, PSF, etc.)
Educando para a Saúde nas Escolas
A escola é um importante espaço para o desenvolvimento de um programa de educação para a saúde entre crianças e adolescentes. Distingue-se das demais instituições por ser aquela que oferece a possibilidade de educar através da construção de conhecimentos resultantes do confronto dos diferentes saberes: aqueles trazidos pelos alunos e seus familiares e que expressam crenças e valores culturais próprios; aqueles contidos nos conhecimentos científicos veiculados pelas diferentes disciplinas; os divulgados pelos meios de comunicação, muitas vezes fragmentados e desconexos, mas que devem ser levados em conta por exercerem forte influência sócio-cultural e aqueles trazidos pelos professores, constituídos ao longo de sua experiência resultante de vivências pessoais e profissionais, envolvendo crenças e se expressando em atitudes e comportamentos. Esse encontro de saberes gera o que se convencionou chamar “cultura escolar” que assume expressão própria e particular em cada estabelecimento, embora apresente características comuns a tudo aquilo que é típico do mundo escolar.
Essa dinâmica cultural da escola é extremamente vigorosa, tornando a escola um espaço de referências muito importante para crianças e adolescentes que, cada vez mais, desenvolvem em seu âmbito experiências significativas de socialização e vivência comunitária. A escola é considerada por alguns como o espaço de transição entre o mundo da casa e o mundo mais amplo (Arendt, 1979).
Portanto, a cultura escolar configura e é instituinte de práticas sócio-culturais (inclusive comportamentos) mais amplos que ultrapassam as fronteiras da escola em si mesma. É dentro deste enfoque que se entende e se justifica um programa de educação para a saúde, inserido e integrado no cotidiano e na cultura escolar irradiando-se dessa forma para além dos limites da escola.
Nesse contexto, os profissionais de educação têm um papel fundamental que não se restringe apenas a de um mero repassador de informações. Sua atuação é, sobretudo, a de educar a partir da construção de conhecimentos dentro do contexto da cultura escolar: como referida anteriormente.
Nesta concepção é importante que se reconheçam como modelos (suas atitudes e comportamentos também ensinam) nos quais não só os alunos, mas toda a comunidade, se inspiram adotar ou mudar comportamentos que podem concluir para uma melhor qualidade de vida.
Educar para a saúde nas escolas implica, também, que a saúde seja abordada de forma holística, trabalhando-se todos os aspectos que concorrem para a sua obtenção e manutenção.
Entre eles, destacamos a adoção de comportamentos saudáveis que envolvem hábitos alimentares, prática de exercícios físicos regulares, o não fumar, a redução ou abandono do consumo de bebidas alcóolicas, a proteção à exposição solar excessiva e aos fatores ocupacionais, além de hábitos sexuais responsáveis e protegidos, dentre outros que previnem o câncer e outras doenças como as cardiovasculares.
Em programa desenvolvido nas escolas junta-se àqueles previstos no Plano de Ações e Metas Prioritárias do Ministério da Saúde; tais como: o Programa da Saúde da Família, da Saúde da Criança, Materno Infantil e dos Agentes Comunitários de Saúde.
Doenças cardiovasculares, dentre outros, através dos quais as ações educativas para a prevenção dos fatores de risco de câncer também podem alcançar a comunidade infanto-juvenil, aumentando sua efetividade (Ministério da Saúde 1997: Ministério da Saúde, 1996). Por outro lado, vêm somar esforços com aqueles programas de saúde já desenvolvidos dentro da escola nos diferentes pontos do país.
Reconhecemos que um programa dessa natureza deve levar algumas barreiras existentes e que dificultam a adoção de ações educativas de Promoção de Saúde na rotina das escolas e de seus profissionais. Entre elas, está a dificuldade que o ensino vem atravessando, com um redimensionamento de suas funções e práticas, com uma sobrecarga de expectativas por parte da sociedade, carente de atenção e de informação. Em decorrência, os professores vêm acumulando responsabilidades de forma crescente, sem remuneração adequada, o que faz sentirem-se, muitas vezes, despreparados e relutantes para lidar com questões que, aparentemente, estariam fora de sua alçada.
Essa atitude se explica, em parte, pela falta de uma tradição no desenvolvimento de ações voltadas para mudanças de estilos de vida no Brasil, e que também se reflete na formação dos professores (inicial e continuada), constituindo-se em mais uma dificuldade para a implantação de ações de Promoção da Saúde em Escolas. A introdução do tema no currículo de formação de professores contribuiria para a formação de profissionais mais conscientes de seu papel em relação à sua própria saúde, portanto, mais capacitados para ensinar de forma coerente e com naturalidade a seus alunos, influenciando-os a Ter um comportamento saudável.
Torna-se cada vez mais urgente e necessário que a relação entre saúde, estilo de vida, questões psicossociais, econômicas, políticas e culturais sejam discutidas nas escolas de formação de educadores. Além do conhecimento, as crenças, atitudes, habilidades e comportamentos dos profissionais de educação representam elemento fundamental para a efetividade das ações educativas junto aos escolares.
Por outro lado, a dicotomia entre ações de promoção de saúde na escola e a influência ambiental e social mais ampla, afetando o comportamento das crianças fora da escola, levou ao surgimento do conceito de escola promotora da saúde que oferece uma alternativa mais holística para os programas de educação para saúde nas escolas. É a escola atuando dentro e fora de seus meios, envolvendo profissionais de educação, alunos, as famílias e a comunidade em geral, promovendo a responsabilidade de todos com a manutenção da saúde (Hyndman, 1998).
Com base nesses pressupostos, que confirmam a importância da escola como espaço para as ações de Educação para Saúde e diante da dimensão do problema de saúde pública que o câncer e outras doenças relacionadas aos mesmos fatores de risco representam, tornou-se imprescindível que o INCA formalizasse um programa que estimule hábitos de vida saudáveis, voltado para as escolas: o Programa Saber Saúde.
Ecologia
Estudo da planta, do animal ou do homem em relação ao meio ou ambiente; estudo biológico dos seres vivos com o ambiente em que vivem.
Meio Ambiente
A lei 6.938, de 31/08/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação no Brasil, define: “Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e internações de ordem física, química e biológica, que permite, obriga e rege a vida em todas as suas formas”.
Algumas Doenças Decorrentes
Tabagismo e câncer do pulmão
Raios solares e câncer da pele
Doenças leucêmicas e radioatividade
Infecções e parasitoses diversas
Saneamento Básico
Conceito
Segundo a definição clássica, “Saneamento é o conjunto de medidas, visando preservar ou modificar as condições do meio ambiente com a finalidade de prevenir doenças e promover a saúde”. É uma definição física, material, que na sua extensão não leva em conta fatores humanos. Segundo a “International Fundation”, “Saneamento é o modo de vida, é a qualidade de viver, expressa em condições de salubridade, com casa limpa, comércio e indústria limpos, fazendas limpas. Sendo um modo de vida, deve vir do povo, ser alimentado pelo saber e crescer como um ideal e uma obrigação nas relações humanas”.
Histórico
A importância do saneamento e sua associação a saúde humana remota às mais antigas culturas. O saneamento desenvolveu-se de acordo com a evolução das diversas civilizações, ora retrocedendo com a queda das mesmas, ora renascendo com o aparecimento de outras.
Os poucos meios de comunicação do passado podem ser responsabilizados, em grande parte, pela descontinuidade da evolução dos processos de saneamento e retrocessos havidos.
Conquistas alcançadas em épocas remotas ficaram esquecidas durante séculos porque não chegaram a fazer parte do saber do povo em geral, uma vez que seu conhecimento era privilégio de poucos homens de maior cultura.
Por exemplo, foram encontradas ruínas de uma civilização na Índia que se desenvolveu a cerca de 4.000 anos, onde foram encontrados banheiros, esgotos na construção e drenagem nas ruas (Roseu 1994).
O velho testamento apresenta diversas abordagens vinculadas às práticas sanitárias do povo judeu como, por exemplo, o uso da limpeza: “roupas sujas podem levar a doenças como a escabiose”. Desta forma os poços para abastecimento eram mantidos tampados, limpos e longe de possíveis fontes de poluição (Kottek, 1995).
Existem relatos do ano 2000 a.c., de tradições médicas, na Índia, recomendando que “ a água impura deve ser purificada pela fervura sobre um fogo, pelo aquecimento no sol, mergulhando um ferro em brasa dentro dela ou pode ainda ser purificada por infiltração em areia ou cascalho, e então resfriada”(USEPA, 1990).
No desenvolvimento da civilização greco-romana, são inúmeras as referências às práticas sanitárias e higiênicas vigentes e à construção do conhecimento relativo à associação entre esses cuidados e o controle das doenças.
Das práticas sanitárias coletivas mais marcantes na Antigüidade podemos citar a construção de aquedutos, banhos públicos, termas e esgotos romanos, tendo como símbolo histórico a conhecida Cloaca Máxima de Roma.
Entretanto, a falta de difusão dos conhecimentos de saneamento levou os povos a um retrocesso, originando o pouco uso da água durante a Idade Média, quando o “ per capita” de certas cidades européias chegou a um litro por habitante/dia. Nessa época, houve uma queda nas conquistas sanitárias e consequentemente sucessivas epidemias. Quadro característico desse período é o lançamento de dejeções na rua.
Cumpre assinalar, todavia, nessa a construção de aquedutos pelos mouros, o reparo do aqueduto de Sevilha em 1235, a construção do aqueduto de Londres com o emprego de alvenaria e chumbo e, em 1183, o abastecimento inicial de água em Paris.
Ainda nos dias de hoje mesmo com os diversos meios de comunicação existentes, verifica-se a falta de divulgação desses conhecimentos. Em áreas rurais a população consome recursos para construir suas casas sem incluir as facilidades sanitárias indispensáveis, como poço protegido, fossa séptica, etc…
Assim sendo o processo saúde versus doença não deve ser entendido como uma questão puramente individual e sim como um problema coletivo.
A influência do ambiente na vida humana
Meio ambiente: Os antigos reconheciam quatro elementos principais:
Água
Terra
Ar
Fogo (hoje substituído pela luz do sol)
Terra ou solo é o palco onde se desenvolve a atividade humana. Recebe a influência do ar, da água do sol, dos homens e dos animais.
Atividades básicas de saneamento:
Abastecimento de água
Disposição de dejetos e águas servidas
Disposição de lixo
Controle de animais e vetores de doenças (insetos, roedores, etc.)
Saneamento dos alimentos
Saneamento da habitação
Saneamento de locais de trabalho
Saneamento das escolas
Saneamento dos locais de lazer (piscinas, praias, lagos, etc.)
O Programa de Saúde da Família
O que é Saúde da Família?
Estratégia para organizar sistemas de saúde – forma singular de ordenar o sistema para satisfazer demandas e representações da população. Implica na articulação da Atenção Básica dentro de um sistema integrado de saúde.
O que é um Sistema Integrado de Saúde?
“Serviços organizados através de uma rede contínua de pontos de atenção à saúde que presta uma assistência contínua a uma população definida – no lugar certo, no tempo certo, na qualidade certa e com custo certo – e que se responsabiliza peloa resultados econômicos e sanitários relativos a esta população”. (Mendes, 2002)
6. Influência da Adultescência no Ciclo Vital
Acadêmico Jairo Carvalhais Câmara
Conferência realizada no dia 03 de maio de 2004, no Instituto Mineiro de História da Medicina.
A conquista do movimento perpétuo é uma eterna busca do homem. O Universo inteiro é uma máquina em movimento contínuo. Se o movimento desaparece, é para transformar numa outra espécie de energia, que pode por seu turno, transformar-se em novo movimento. Esta transformação de energia cria, portanto, o movimento eterno.
O problema é que não podemos transformar uma força de trabalho, sem que a energia se gaste. Do nada, não se pode conseguir coisa alguma. A Gravitação Universal estabelece o equilíbrio de atração de uma matéria para as outras e sua interrupção ocasiona uma mudança de direção, proporcional á força de atração, com as conseqüências variáveis presumíveis ou catastróficas, símbolo das mutações violentas tanto para os seres inertes, quanto para os seres vivos.
Pelas leis naturais da biologia com a histórica “Classificação das Relações Harmônicas e Desarmônicas entre os Seres Vivos”, hoje designados biossistemas, as diversas espécies de seres vivos possuem uma evolução própria para seu potencial energético. O Acadêmico Romeu Guimarães (7) em sua recente palestra sobre o tema “O Que é Vida”, e seu trabalho “VIVER – a célula e nós” define o viver como “metabolizar, estando em atividade de síntese contínua os componentes do sistema, em dinâmica constante. Nos sistemas de transformações moleculares, as sínteses são chamadas de anabolismo e as degradações de catabolismo. Viver é crescer”. Enquanto os minerais crescem por placas em justaposição, os seres vivos são gastadores de energia e crescem por intussuscepção.
Considerado antigo, ainda pode ser citado o clássico aforismo: “o ser vivo nasce, cresce, reproduz, envelhece e morre”, que em verdade, define uma divisão de cinco fases principais. Constitui o Ciclo Vital com as modalidades específicas para cada fase em seus princípios orgânicos, suas doenças, seus direitos, suas vitórias e derrotas, suas alegrias e tristezas e suas realizações que em geral, visam a perpetuação da espécie.
Devemos lembrar que o Ciclo Vital é regido por leis fisiológicas com padrões específicos para suas fases, havendo completa harmonia química e física em todo o organismo. Funciona sob o controle de uma orquestra glandular cujo maestro é a hipófise e com os hormônios do eixo hipotálamo – hipófise – gônadas (ovários e testículos) (13), que não deve ser modificado. Isto tanto é válido para a muito jovem em uso de anticoncepcionais já aos 11 anos, como para a idosa com o tratamento de reposição hormonal (TRH) sem uma orientação especializada podendo alterar o equilíbrio orgânico da beleza, da perda de sentido ou função ou mesmo da vida, principalmente quando associados a tratamentos cirúrgicos estéticos mal sucedidos.
Atualmente, esta constituição da prole não é mais considerada a pedra fundamental das finalidades da existência. A raça humana pela sua elevação mental com capacidade de raciocínio desde a mais remota Antigüidade, concentra seus princípios de paradigma cultural nas vantagens e prazeres da terceira fase, ou seja, a fase adulta reprodutiva. Atualmente, ambos os sexos apresentam modificações progressivas, sendo mais evidente na mulher, devido as importantes modificações orgânicas hormonais cíclicas tão necessárias á sua capacidade gestacional.
Em sua origem divina por ser criação de Deus, dá-se o nome de adâmica á raça humana, por ser ela originada de Adão, segundo a Bíblia. No afresco “Adão e Eva”, de Rafael Sanzio (1483 – 1520), Itália, (Vaticano) (11), Adão e Eva são representados como responsáveis pela “feliz culpa”, que deu origem ao nascimento do Redentor, como diz o hino “Exultet” cantado no Sábado de Aleluia. Neste quadro, podemos notar a presença estrogênica da cobra, se insinuando no sentido do homem que possivelmente sem o saber, se ressentia da privação sexual e através do pecado original, uniu os dois corpos para suas satisfações físicas. Poderia ser considerada uma orientação de aconselhamento conjugal e a cobra em sua forma feminina, a primeira sexóloga ou psiquiatra. No Século II, surgiu uma seita religiosa chamada Adamita, que proscrevia as vestes para imitar a inocência de Adão ao ser criado.
Assim, tanto o homem quanto a mulher podem ser classificados de acordo com o estádio atual, pelas inúmeras mostras sua endogeneidade. O endógeno é aquela disposição vital que nos faz a todos crescer desde dentro, desabrochando-nos em seres cada vez mais complexos e completos. O endon é o constituinte básico da dimensão endógena do ser humano. Potencial de energia, de força que comanda o vir-a-ser do sujeito e que trabalha como um coalizador de aferências neurofisiopsicobiológicas”, descrito pelo Acadêmico Marco Aurélio (2) com suas diversas características que ao nosso entendimento, seria o espírito ou a própria alma.
Basicamente, o ciclo vital iniciado com o nascimento na qualidade de recém-nascido na primeira semana, continua como lactente no primeiro ano, primeira infância até o sexto ano e segunda infância até o décimo ano. Até aí com semelhança de crescimento para os dois sexos devido ás influências hormonais maternas na gestação e lactação.
A partir dos dez anos, as funções hormonais já estão em produção e as diferenças ficam mais aparentes principalmente para a mulher devido sua natureza cíclica. Os primeiros sinais físicos são a telarca, que é o crescimento das mamas, seguida da pubarca com os pêlos pubianos e finalmente, a menarca sua primeira menstruação. Constituem em conjunto, a puberdade, mas que, entretanto não significa o completo desenvolvimento do sistema reprodutor.
Continuando sua evolução, passa para a fase de adolescência, com os períodos cíclicos do menacme e o desabrochar dos caracteres físicos de acordo com a ascendência genética. Pela afirmativa do Sexólogo Gerson Lopes (8), as “mudanças rápidas e dramáticas dos níveis hormonais na adolescência estão relacionadas com as mudanças de comportamento nesta fase. Em 1974, os critérios de Tanner para os meninos e as meninas classificaram as mudanças biológicas no crescimento esquelético, alteração da composição corporal, desenvolvimento cardiorespiratório, maturação reprodutiva e controle neuroendócrino. As pesquisas nessa área são recentes e controversas. Ainda se desconhece a relação entre alterações hormonais pubertárias e ambiente psico-sócio-cultural no resultado final do comportamento individual. Sabe-se que a testosterona aumenta 18 vezes e o estrogênio 8 vezes. Ambos alteram as funções cerebrais”.
Após os 18 anos, na juventude que se completa aos 25 anos, está plenamente desenvolvida organicamente e na dependência de suas condições sociais e educacionais, também apta para o “Struggle for Life” de acasalamento ou atualmente, de emancipação familiar.
Finalmente, aos 25 anos inicia a principal e tão desejada fase adulta, fazendo no seu dia a dia a aplicação do hedonismo que agendou para sua vida. Atualmente, sobrecarregada pela sua entrada no mercado de trabalho e tirando do homem o “status” de cabeça do casal, até o surgimento das paralisações fisiológicas do climatério descritas pela FEBRASGO (6) e classificado por Utian em Tipo A – estrogênio dependente, B – estrogênio independente, C- agenesia ovariana e D – cirúrgico, aos quarenta e cinco anos iniciado pelos fogachos, primeiros e incômodos sintomas da pré-menopausa, culminado pela menopausa, última menstruação e seguido pela pós menopausa, chegando finalmente à senescência dos sessenta e cinco anos, hoje designada como terceira idade.
No homem, apesar de não ser cíclico, as fases são equivalentes em sua evolução. Também obedecem ao desenvolvimento físico e mental, com um determinado equilíbrio hormonal que não se encerra totalmente, mas que se modifica ao completar a fase adulta com a andropausa, e o surgimento de hormônio estrogênico.
A terceira idade, definição que substituiu a antiga senilidade considerada ofensiva, igual para os dois sexos, mostra as três situações de agravamento: “conservada”, quando mantêm uma certa beleza e postura dinâmica, “esperta” já decadente, mas ainda hígida em alguma função moderada e finalmente “lúcida” quando apenas seus surtos de memória a separa do outro lado da vida.
No conceito da modernidade, também esta incompreendida fase tem abordagem muitas vezes desumana não só pelas inúmeras formas de prevenção de saúde, ou comerciais de assistência física e social, com programas muitas vezes ridículos, esquemas de tratamentos empíricos e chegando a uma verdadeira panacéia, fugindo daquilo que já é definido como longevidade saudável pelo Acadêmico Armando Naves (12), na relação com “o trabalho gratificante, atividades físicas e mentais prazerosas e uma alimentação sóbria, mas rica em qualidade”. Finalmente, o direito de uma “morte gloriosa” mediante competente assistência médica e adequado suporte familiar.
Em sua recente matéria “Espírito Jovem”, a jornalista Idamaris Felix (5) comenta o surgimento do conceito de uma nova fase evolutiva do Ciclo Vital, com o título de Adultescência palavra inventada em 1987 e incorporada ao Glossário para os anos 90 de David Rowan (Editora Prion) do The Gardian, conceituado jornal britânico: “Pessoa imbuida de cultura jovem, mas com idade suficiente para não o ser”, que manifesta-se entre os 35 e 45 anos de idade. A referência da idade cronológica perde para a biológica e psicológica, sendo considerada a chave para o prolongamento da juventude. Na verdade é o período da fase adulta modificada no seu tempo, para o maior aproveitamento possível, mesmo que possam ocorrer as mais adversas conseqüências.
Não há dúvida de que a espécie humana já pode ser considerada em desequilíbrio do seu ecossistema, não respeitando as leis da seleção natural dos seres vivos com um rápido aumento da longevidade hormonal, em detrimento da longevidade saudável. Não somente pela leitura das estatísticas, mas também pela visão direta das multidões nas ruas de diversos países, a diminuição de gestantes, crianças e jovens já pode ser considerada desproporcional ao aumento de idosos.
Uma das conseqüências sociais mundiais, será a falência dos Sistemas de Previdência Social por causa do aumento numérico de aposentados: antigamente era o marido aposentado, agora é o casal aposentado com previsão de maior sobrevivência.
Tomo a liberdade de dividi-la em precoce e tardia:
Adultescência Precoce, quando influenciado pelas excessivas imagens fornecidas na atualidade pela mídia, o jovem antecipa situações adultas sem o devido desenvolvimento físico e mental, já atingindo a fase da infância, que o leva muitas vezes a um estado de desajuste e risco de graves prejuízos para seu organismo. O maior exemplo de adultescência precoce está na Bíblia Sagrada (4), no Evangelho de São Lucas, Cap. 2, V. 49, quando encontrado no Templo com os Doutores, Jesus Cristo aos doze anos responde a seus pais aflitos: Para que me buscáveis? Não sabíeis que importa ocupar-me nas coisas que são do serviço meu Pai?
Não é somente a criança desviada dos seus pequenos mundos para o grande e falso mundo da mídia com seus inúmeros atrativos de cosméticos e prazeres, já atingindo os difíceis assuntos de economia. Também o adulto, quando envolvido por uma súbita modificação do seu organismo por diversos motivos, sejam do lazer ou das responsabilidades profissionais, pode se desgastar com maiores dificuldades de reposição orgânica e psicológica.
Quanto menor o preparo da adaptação a determinada função, mais rápida será a mudança para um outro ciclo intermediário, que poderia ser chamado de “senescência precoce”: mudança do físico com envelhecimento visível no fácies, na brancura dos cabelos, na obesidade pelo descontrole das bebidas e jantares e principalmente pela rápida mudança no comportamento psicológico, especialmente visível nos jovens Chefes de Governo.
Adultescência Tardia, quando pelos mesmos motivos, o idoso após seu ciclo adulto cronológico se obriga a um prolongamento das atividades e acrescenta exaustivos esquemas de recuperações artificiais, que apesar de uma interna e aparente realização, também pode resultar em conseqüências de graves lesões orgânicas ou de riscos sociais, pela incapacidade fisiológica explorada em esquema desorganizado e apenas atendendo ao apelo do “modismo”
A mudança do comportamento de vida da mulher, ainda está em fase de transição, mas, aumentou em muito a necessidade de protelar a senescência. Sua entrada no mercado de trabalho ainda sem abandonar totalmente seus afazeres domésticos, leva ao desgaste precoce em desacordo com o perfil corporal exigido pela empresa, cada uma com itens específicos para o seu tipo de atividade.
O padrão de beleza e psicológico exigido é que alimenta a frustação por não atingir aquele corpo, apesar da busca eterna. No decorrer da história, o corpo da mulher sempre está em evidência nos banhos de leite das rainhas egípcias, nos adornos, jóias e tecidos raros. Mesmo nas ficções como “Ella a Feiticeira” de H. Rider Haggard, ou a bela e eterna longevidade encontrada na cidade de Shangri-lá, como também, nas formas das diversas Escolas de Pintores com suas deusas e madonas e atualmente, mais do que nunca, a beleza feminina tem que ser preservada a qualquer preço.
Citando apenas dois exemplos, é fato comprovado que a obesa em cargo executivo recebe 30% a menos, não ocorrendo o mesmo quando o trabalho é braçal e o grande risco para jovens e belas candidatas a empregos, quando o empregador é um legítimo adultescente assediante.
Para ambos os sexos, esta nova fase do ciclo vital está sendo agravada pela rápida comercialização tecnológica que apela para os produtos que estimulam mais e mais a exploração corporal nos seus dotes físicos e sexuais, mas deixando no esquecimento as verdadeiras necessidades mentais e morais, com sérias conseqüências.
Assim, generalizou-se a gravidez não desejada, a gravidez da infância e adolescência, a gravidez da idosa, o retorno de patologias superadas e chamadas emergentes, o surgimento de doenças e tumores hormônio dependentes, a proliferação das doenças sexualmente transmissíveis já previstas na Bíblia Sagrada (3) na Epístola da carta de São Paulo aos Romanos Cap. 1, VV. 24-32 com risco de morte e hoje em sua forma moderna de AIDS pelos desvios do comportamento sexual, e ainda, o uso de drogas, o aumento da criminalidade pelo desemprego e necessidade de consumo.
Finalmente, o descontrole total da adultescência e a substituição da mão de obra humana pela máquina com a moderna “robotização” já descrita em ficção em “Caminhões” de Stefen King e satirizada por Charles Chaplin em “Tempos Modernos”, como também sua perfeita frase de premonição das dificuldades que o eterno garoto encontraria, na transformação do cinema mudo para o falado:” Com o uso da palavra não há mais lugar para a imaginação”.
Que um surto de bom senso surja de alguma forma, para que o descontrole total da adultescência, não torne impossível a sobrevivência, para que possamos continuar a nossa “Incansável Procura” (10).
Emocionado e atendendo ao pedido do Presidente Luiz Gonzaga do Amaral, encerro esta palestra com um poemeto do poeta Austen Amaro (1):
Adolescente
I
Porque o fruto da cerejeira realizara, na sua
forma, o desejo amoroso da flor,
ela pensou, para colher a cereja, o mais belo
de seus gestos.
II
Por isso, erguendo o corpo nos pequenos pés,
colheu, entre os dentes, a cereja,
como se retribuísse, com o fruto amoroso de
seu beijo
nascido da rubra flor dos lábios,
o fruto da cerejeira!
Referências
1. Amaro, Austen “Poemetos à Feição do Oriente” – Livraria José Olimpio Editora – Rio de Janeiro, 1939
2. Baggio, Marco Aurélio – “Causação em Psiquiatria: O Endogeno”- Fóglio Editora, Belo Horizonte, 2000.
3. “Bíblia Sagrada” – “ Epístola aos Romanos” -Gráfica das Edições Paulinas, São Paulo, 1961.
4. “Bíblia Sagrada” – “A Descoberta de Jesus no Templo” -Tradução do Padre Antônio Pereira de Figueiredo, Edição Barsa, 1969.
5. Félix, Idamaris – “Espírito Jovem” – Bem Viver- Estado de Minas, Belo Horizonte, 18 de janeiro de 2004.
6. Fernandes, César Eduardo – “Climatério – Manual de Orientação” – Comissão Nacional Especializada de Climatério – Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia FEBRASGO, Rio de Janeiro, 1995.
7. Guimarães, Romeu Cardoso- “O que é vida” – Palestra realizada na Academia Mineira de Medicina, Belo Horizonte, l6 de março de 2004 e o trabalho “VIVER – a célula e nós” – Departamento de Biologia Geral, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.
8. Lopes, Gerson Pereira – “Puberdade e Adolescência” – Revista de Sexologia, Ano 2, Número 1, Janeiro/julho, 1993.
9. Lopes, Carlos Herculano – “Raizes da Infância”- Em Cultura – Estado de Minas , l4-01-2004.
10. Melo, Rogério Drummond Burnier Pessoa de, – “A Incansável Procura”- Estudo do título para um quadro de nossa autoria, na Primeira Exposição de Arte de Acadêmicos da Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, 1950.
11. Nascentes, Antenor – “Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras”- Bloch Editores S/A, Rio de Janeiro, Brasil, 1972.
12. Naves, Armando Leite – “Longevidade Saudável” – Gráfica e Editora Cultura, Belo Horizonte, 1996.
13. Netter, Frank H., MD – The CIDA Collection of Medical Ilustrations – CIBA Pharmaceutical Company – New York, NY, USA, 1954