10. Cirurgia Segmentada do Baço
Acadêmico Andy Petroianu
Conferência realizada no dia 05 de outubro de 2004, na Academia Mineira de Medicina.
INTRODUÇÃO
[1,10,12,14,15,22,27,39,77,83,84,85,96,135,142,149,161,162]
Em 1979, durante a realização de uma esplenectomia para tratar um paciente portador de hipertensão porta esquistossomática que apresentara hemorragia por varizes esofágicas, verificamos que, após termos ligado os vasos do pedículo esplênico, o pólo superior do baço preservava a sua coloração normal, enquanto o restante do órgão tornava-se azulado, por isquemia. Para sabermos quais vasos mantinham a vitalidade do pólo superior do baço após a ligadura de seu pedículo, recorremos aos livros e artigos de anatomia. De acordo com essa literatura, o pólo superior é suprido pelos vasos polares e pelos vasos gástricos curtos, todos eles ramos ou afluentes dos vasos principais do baço, que nessa cirurgia, haviam sido ligados e seccionados. Portanto, as informações publicadas estavam em desacordo com as nossas constatações cirúrgicas, que se repetiram em outras esplenectomias, para tratamento de diferentes afecções, incluindo trauma.
Paralelamente, havíamos observado que pacientes esplenectomizados eram mais susceptíveis a fenômenos sépticos e tivemos a oportunidade de acompanhar um doente jovem com sepse fulminante que, apesar do tratamento com antibióticos de amplo espectro e suporte metabólico-nutricional falecera. Percebemos então que a esplenectomia não era tão isenta de risco, como era rotineiro considerar naquela época. Assim iniciamos os nossos estudos sobre as funções esplênicas, que nos conscientizaram sobre a necessidade de preservar o baço, quando fosse possível.
Ao fazer a revisão da literatura, verificamos que o departamento de cirurgia de nossa faculdade foi o local em que se iniciou, no fim da década de 1950, a era contemporânea da conservação do baço, graças aos estudos de Antônio Zappalá e Marcelo Barroca Campos Christo, sob a orientação dos professores Liberato João Alfonso Aidio e João Baptista de Resende Alves, sendo este último o pai da escola de cirurgia a que temos a honra de pertencer. Tivemos o privilégio de trabalhar com o Professor Campos Christo no início da década de 1970 e, com o Professor Resende Alves, em 1977.
Dentro desse contexto e, por razões pessoais, sentimo-nos motivados a assumir a linha de pesquisa voltada à preservação esplênica. Inicialmente, interessava-nos conhecer de forma correta como era a arquitetura vascular do pólo superior esplênico e se era possível preservar essa parte do baço mesmo após a ligadura de seu pedículo, a despeito do que fora escrito nas literaturas médica e anatômica.
Por outro lado, existem situações nas quais, por mais que se tente preservar o baço, mesmo em mãos experientes, esse órgão acaba tendo de ser completamente retirado. Em outros casos, diante de um doente em precárias condições físicas, no qual o tempo operatório deve ser o menor possível, ou quando o cirurgião não tem intimidade com operações conservadoras do baço, a esplenectomia total é inevitável. Em tais circunstâncias, uma boa e rápida alternativa de manter, pelo menos em parte, as funções esplênicas, com risco mínimo de complicações, é o implante esplênico autógeno.
A idéia de semear segmentos de baço em diferentes locais do abdome não é nova. Seus fundamentos estão na esplenose, que é a implantação natural de tecido esplênico oriundo de um trauma. Atualmente, o grande número de pesquisas conduzidas sobre o implante esplênico autógeno não deixa mais dúvida quanto à sua viabilidade e eficácia funcional. À medida que os cirurgiões se atualizam em cirurgia esplênica, passam a incluir o auto-implante entre as boas alternativas de se manter o tecido esplênico, reduzindo assim as graves adversidades da asplenia cirúrgica.
Seguindo na linha de pesquisa iniciada com a esplenectomia subtotal, prosseguimos os nossos estudos sobre as operações conservadoras do baço, tendo por base os auto-implantes esplênicos que tivemos de realizar nos pacientes em que não pudemos preservar esse órgão em sua integridade ou por meio de ressecções parciais.
TÓPICOS HISTÓRICOS
Em medicina e principalmente na cirurgia são raras as ocasiões em que se pode propor uma conduta original. Na maioria das vezes, o desconhecimento histórico faz com que se tenha por novidade algo que já exista, por vezes, há séculos. Para muitos pode ser surpreendente, mas as operações conservadoras do baço estão entre os procedimentos cirúrgicos realizados pelo menos desde o renascimento.