Ode a Gilberto Madeira Peixoto – Andreia Donadon Leal

    Para sempre, Gilberto

    Andreia Donadon Leal – Mestre em Literatura pela UFV

    Presidente da ALACIB-Mariana, Membro efetivo da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais,

    Não imaginei ter que viver esse dia, mesmo sabendo da fugacidade da carne. A obra do homem e seus feitos são imortais; atravessam séculos, percorrem nações, se perpetuam para além das dobras do tempo. Mas não me acostumei com a previsibilidade. Prefiro me iludir com a longevidade do amor sem medida de diletos amigos.

    Apavora-me o dia marcado para dar adeus a amigos, pais adotivos; parte do círculo diminuto de amizades douradas, aquelas que guardo com zelo e amor no fundo do peito. Amor é sentimento sagrado que vai além da carne, que vai além do pulsar do coração, que vai além do respirar do pulmão, que vai além da compreensão da medicina. A medicina é ciência portentosa que cuida, trata e cura enfermidades, mas não é ciência exata, feito equações simples ou complexas da matemática. Medicina é arte repleta de curvas, retas, ângulos, aclives, declives, choros e sorrisos… Médicos são anjos trajados de homens, feitos de carne, osso e coração. Gilberto Madeira Peixoto, nascido em 25 de junho de 1941, médico, intelectual da mais alta patente, da mais alta verve, da mais alta amorosidade à história, às letras, à cultura, à literatura, à cultura, ao ser humano.

    Gilberto, metade amigo, metade pai, inteiro pai-amigo, é/foi ser divino, que o Altíssimo colocou na minha lida diária. Obra do acaso? Acaso é crença do ateísmo que deixou de fazer parte do meu dogma. Creio em Deus, na alma do meu pai, que da casa de cima, enviou-me outro iluminado. Bendito ser trajado de branco, discurso eloquente, cuja sabedoria ultrapassa a marca da engenhosidade humana. Seguíamos, de mãos dadas, irmanados na lida cultural, literária, humanística. Seguíamos de braços dados, a voar para o outro lado do Atlântico, celebrando a máxima aldrávica: o máximo de poesia no mínimo de palavra. A poesia liberta, une, atravessa caminhos inimagináveis. A poesia segue voando para plagas distintas, liberta, vívida, pulsante, edificante, unindo nações e homens que têm amor à palavra e às gerações. Seguíamos caminhando, ora voando; ora de automóvel ou táxi; sempre a seguir, sem esmorecer, sem se abater diante de intempéries, celebrando as conquistas da vida e dos nossos feitos.

    Para frente é que caminham os fortes; para frente é que a vida segue, sem se curvar aos queixumes e às afetações de pobres, ricos ou poderosos. Disse-me ele pouco tempo atrás na varanda de sua casa, vendo o pôr do sol e relembrando o que dissera num discurso em Mariana: “– A vida é breve, Deia, e dela levamos lembranças, pepitas valiosas em ações e carinhos de amigos. Meu tempo urge, sub-repticiamente, para o fim da caminhada, no entanto, o homem não morre, e a obra e seus feitos pulsam por ele. De modo que me sinto tranquilo em relação ao legado que deixo à minha família; só me dá pena de deixar o maior amor da minha vida… Isto sim, doei-me o coração; não a alma que sempre estará em paz, enlevada no meu orquidário branco e lilás, nas nuvens brancas, nos raios de sóis brandos, nos dias calmos e claros, pois aqui, morada dos justos, há sempre LUZ. E é assim que desejo ser lembrado: um lume presente na vida de minha esposa, dos meus filhos, netos, irmãos, sobrinhos, amigos, pacientes; das pessoas que trabalharam comigo, dos que me amaram, dos que me presentearam com pequenos gestos e ações, com os humildes, com os justos, com os que lutam por liberdade e justiça, com os que buscam qualidade de vida, com os que caminham em busca de um mundo melhor, com os que buscam o conhecimento, com os que praticam a arte sagrada da medicina, com os historiadores, com os literatos, enfim, com a tessitura do legado que os homens de alma nobre deixam para outras gerações: O AMOR PELO PRÓXIMO.

    E o pai-amigo se foi, mas deixou muita luz em forma de discurso de amor à vida, para que todos os dias futuros sejam ressonâncias de sua voz, perfume colorido de orquídeas num quintal disponível ao sol, que no ocaso se abre em luz casa adentro para, em exuberância de vida, aquecer as noites. É a luz solar do Gilberto aquecendo, além das águas pelos aquecedores solares que ele planejou orgulhoso, os corações saudosos que hão de se confortar com suas palavras poéticas, obra que deverá ser cultuada e perpetuada. Com essa luz solar, sua orquídea mais delicada, Suzana, continuará florida e radiante; linda como Gilberto sempre quis…

    Andreia Donadon Leal – Deia Leal
    Mestre em Literatura pela UFV

    Sonho V

    Imagens são sonhos afetos
    colam nas telas
    nas fotografias
    e lembram alguma coisa
    de esculturação natural

    imagens são sonhos afetos
    a beijar uma superfície
    Obras de arte 2105
    http://www.jornalaldrava.com.br/Doc/catalogo_deia_2015.pdf