Cirurgiões: entre a guilhotina e a robótica

    A Igreja medieval, através do Concílio de Tours em 1163, proibiu formalmente ao médico o ensino e a prática de qualquer atividade cirúrgica: “A Igreja abomina o sangue”, esse era o mandamento. Assim, restava aos barbeiros incultos a tarefa de cortar pessoas a seco.

    Além das atividades rotineiras nos “hospitais”, os barbeiros eram responsáveis pelas raras dissecações de cadáveres nas faculdades, que ocorriam em anfiteatros e sempre no inverno, para melhor conservação do “sujeito”.

    Uma das grandes mudanças implementadas pela Revolução Francesa foi a inclusão do ensino de cirurgia nas faculdades: “medicina e cirurgia, dois ramos da mesma ciência”. Um dos idealizadores dessa reforma, que se tornou lei em 1803, foi brilhante médico Joseph Guillotin, o mesmo que idealizou a guilhotina.

    A guilhotina surgiu com um objetivo humanitário, para evitar sofrimentos inúteis. Adepto ferrenho do ideal revolucionário, Guillotin buscou também igualdade na punição dos delitos: “pela mesma pena, qualquer que seja o posto ou classe social do condenado”. Até então, as execuções eram distintas: decapitação com sabre para os nobres e com machado para os plebeus, forca para os ladrões, esquartejamento para os regicidas e fogueira para os hereges.

    Os tempos são outros, a cirurgia já é robótica, mas a história atesta: a essência do cirurgião é uma lâmina!

    Fonte: Jean-Noël Fabiani, “La fabuleuse histoire de l’hôpital”.