Cadê o plano, José?

    Por JOSÉ CARLOS SERUFO

    O ano de 2020 encontrou o povo mineiro preparando-se para o maior carnaval de rua de sua história. Centenas de blocos se formavam nas entranhas dos bairros. Nas janelas, ativistas do silêncio protestavam ensurdecidos pelos tambores. Naquele momento, nada mudaria o afã das massas.

    Na estufa de Wuhan, na China, morcegos e humanos trocavam intimidades. Na comilança de um mercado local fecundaram uma variante viral, que logo se alastrou entre a casta anserina apaniguada pelo regime.

    Fronteiras abertas, governo convenientemente mouco, ano novo chinês, capitalistas coparceiros da escravidão, e já fazendo projeções para a ano, formaram o complô perfeito para a disseminação mundial do coronavírus ainda sem sobrenome.

    A mãe natureza, que a tudo via, percebeu a oportunidade do milênio e traçou plano de recuperação universal. Vislumbrou os agressores humanos autotrancados em suas masmorras com grades de álcool-gel, enquanto os rios lavavam a sujeira deles, as florestas se engalhavam e emergiam brotos de alegria.

    O mundo humano recolheu-se sob o medo da doença e o pavor o imobilizou, fomentado pelo temor da morte que fustiga as gretas da vida. Almas miúdas tomaram a liderança da pandemia, vislumbrando ganhos com a desgraceira dos outros.

    Estádios de futebol, construídos na esteira da corrupção, foram transformados em hospitais de última hora, denominados hospitais de campanha. Ironicamente, campanha significa campo extenso.

    Os mineiros não foram diferentes, seguiram o mundo, recolhidos em suas casas, consumiam internet com pão de queijo e fabricavam máscaras de grife própria, ao mesmo tempo em que se intoxicavam de notícias fúnebres desta que é a primeira epidemia em tempo real com contagem seletiva de mortos.

    Quase todos se uniram. Era a guerra contra esse inimigo invisível, agora registrado no cartório da OMS com o nome de COVID19.

    Guerra, esse instinto primitivo, que desde a mais antiga história envolveu grandes estrategistas no manuseio de homens e tropas. Impérios foram formados por líderes inteligentes, mas também gananciosos e amorais, mas que invariavelmente tinham planos bem definidos.

    Nesse ponto, pergunto: Cadê o plano, Zé mané? O plano de enfrentamento e desconfinamento.

    Uma voz do além responde sussurrante: Fala baixo sô. O plano é secreto! Secreto, entendeu? Só o chefe sabe.

    -Uai, mas quem é o chefe?
    -Ah! Não se preocupe, isso, é o que mais tem…