Pensamento Cívico e Filosófico dos Grandes Líderes da Democracia – Deputado Bonifácio de Andrada

    CONFERÊNCIAS
    Na Academia Mineira de Medicina (Taquigrafada)

    Deputado Bonifácio de Andrada

    “Pensamento Cívico e Filosófico dos Grandes Líderes da Democracia”.

    Resumo do Pronunciamento do Deputado Bonifácio de Andrada sobre o Presidente Antônio Carlos Ribeiro de Andrada em 23 de setembro de 1995

    Realizou os estudos preparatórios no Colégio Abílio, em Barbacena e o curso superior na Faculdade de Direito de São Paulo. Ainda estudante, nesta cidade, filiou-se ao Clube Republicano Mineiro, colaborando com o jornal propagandista Vinte e Um de Abril.
    Formado, Antônio Carlos foi Promotor Público da comarca de Ubá e, posteriormente, Juiz Municipal. Mudando-se para Juiz de Fora, atuou com o professor de História, Política e Direito Comercial. Foi proprietário, diretor e redator do Jornal do Comércio e um dos fundadores, posteriormente, do Diário Mercantil.
    Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, cujo governo em Minas foi marcado por grandes obras educacionais, criou a Universidade de Minas Gerais, em 1927, hoje Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), então a primeira do País. Trata-se, assim, de um dos maiores estadistas brasileiros que exerceu cargos políticos de alta relevância na primeira metade do século XX, tais como Presidente interino da República, Presidente do Estado de Minas Gerais, Ministro da Fazenda e Presidente da Assembléia Nacional Constituinte de 1934. Antônio Carlos foi o responsável pela adoção do voto secreto e arquiteto da Revolução de 30. Sua carreira política teve na educação uma das marcas prioritárias de ação, pois concluiu a construção da Escola Superior de Agricultura, atual Universidade Federal de Viçosa (UFV); criou o Instituto de Educação, o primeiro Conservatório Estadual de Música; implantou em Minas a reforma do Ensino Primário e ampliou a rede pública de prédios escolares.
    Foi Vereador e Presidente da Câmara, em Juiz de Fora, em 1894, e, em 1902, Secretário das Finanças do Governo Francisco Sales, substituindo depois o Coronel Francisco Bressane de Azeredo na Prefeitura de Belo Horizonte.
    Foi eleito Senador Estadual, no período de 1907 a 1910 e, no ano seguinte, elegeu-se Deputado Federal. Uma vez reeleito, foi líder da maioria da Câmara Federal, e também relator do orçamento da União. Em 1917, deixou o mandato para assumir o Ministério da Fazenda, no Governo Venceslau Brás.
    Elegeu-se Senador Federal em 1925, e, no ano seguinte, representou o Brasil no Congresso Internacional de Finanças, em Londres, e no Congresso Parlamentar, em Genebra.
    Eleito Presidente de Minas pelo Partido Republicano, Antônio Carlos tomou posse em 07 de setembro de 1926. Suas principais realizações foram: a fundação da Universidade de Minas Gerais, a construção da rede de prédios escolares, a reorganização da rede ferroviária do Sul de Minas Gerais, a criação do Instituto Mineiro de Defesa do Café, a modernização das Estâncias Mineiras, principalmente Poços de Caldas e a instituição do voto secreto. Como Presidente do Estado, foi organizador da Aliança Liberal, entidade partidária que lançou o nome de Getúlio Vargas e João Pessoa a Presidente da República e a Vice, em 1930. Com a derrota fraudulenta destas, pelo então Presidente Washington Luís, Antônio Carlos articulou a Revolução de 1930, levando Vargas ao Poder.
    Com a recusa do Partido Republicano Mineiro – PRM em aderir ao governo vitorioso de Vargas, Antônio Carlos criou o Partido Progressista, organizado para apoiar o Governo Federal, sendo eleito seu primeiro Presidente. Na época da viagem de Getúlio Vargas à Argentina e ao Uruguai, o então Presidente da Câmara, Antônio Carlos, assumiu a Presidente da República de 16 de maio a 7 de junho de 1935.
    Após o golpe de 1937, Antônio Carlos saiu da vida pública nacional, sendo, ainda, já nas vésperas de sua morte, procurado pelo Presidente eleito, General Dutra, para consultas sobre assuntos políticos e financeiros. Antônio Carlos foi membro do IHGB – Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – tendo publicado várias obras sobre economia.
    Antônio Carlos faleceu em 1946 no Rio de Janeiro, tendo sido sepultado com honras de Chefe de Estado, e pronunciamentos significativos de ilustres homens públicos à beira da sua sepultura.
    Descendente direto do Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada Silva, e de outros ilustres parlamentares do Império resumia na sua personalidade uma vocação política de formação liberal democrática, uma compreensão aprofundada da realidade brasileira, uma capacidade de liderança muito eficiente sob trato ameno e envolvente e, sobretudo uma inteligência aberta no relacionamento com os seus contemporâneos. Após a Revolução de 1930 a sua atuação é decisiva para que se consiga a convocação da Assembléia Nacional Constituinte de 1934 de que foi presidente com momentos expressivos de sua atuação como condutor dos seus trabalhos. Presidente da Câmara dos Deputados em 1935 e 1936 foi fator de equilíbrio constitucional na tentativa de impedir o golpe que mais tarde seria concretizado. Apoiou a candidatura de Armando Sales Oliveira, governante paulista em memorável campanha para presidente da república contra o candidato oficial José Américo de Almeida. Não foi reeleito Presidente da Câmara em 1937, pois que o seu afastamento do cargo seria necessário para a concretização do Golpe de Estado de Vargas em 1937, que implantou a Ditadura do Estado Novo. No dia do golpe foi preso em sua residência, pois era considerado uma das figuras de projeção nacional capazes de resistir à iniciativa ditatorial e anti-democrática. Em princípio de 1943 em plena ditadura, Antônio Carlos deu uma célebre entrevista a Revista Diretrizes do famoso jornalista Samuel Wainer em que afirmou na sua manchete que os regimes de opressão seriam derrotado pela democracia, o que teve grande repercussão em todo o país. Com a queda da ditadura de Vargas e instituídos os novos partidos como o PSD, UDN, PR, PTB e outros, Antônio Carlos foi convidado para postos de direção em vários deles, mas recusou-se, mantendo-se fora das atividades partidárias. Após a sua morte várias publicações foram feitas referentes a sua biografia, destacando-se entre elas o trabalho de Moacir Andrade em 1947 que relata inclusive várias frases e anedotas sobre o grande brasileiro. Recentemente foi lançado pela Editora Nova Fronteira um alentado e documentado livro a seu respeito das autoras, Lígia Maria Leite Pereira e Maria Auxiliadora de Faria, intitulado “Antônio Carlos, um Andrada da República, o arquiteto da Revolução de 30”. Seu nome tem sido lembrado e Barbacena é a sede da Universidade Presidente Antônio Carlos, instituição universitária de larga presença em Minas Gerais. Interessante é relembrar algumas frases históricas de Antônio Carlos que a Imprensa atribui algumas vezes a outros homens públicos.
    Quando Ministro da Fazenda afirmou: “O imposto é obrigação moral dos ricos, porque o Estado não pode exigir o empobrecimento dos pobres”.
    Na campanha da Aliança Liberal: “Façamos a revolução antes que o povo a faça”.
    Definindo a instabilidade política: “A política é como as nuvens, mudam em segundos” (ver obra de Moacyr Andrade, em 1947).
    Antônio Carlos perguntara ao jovem pelo pai e este respondeu que o mesmo morrera. Saindo do embaraço respondeu: “Morreu para você, filho ingrato, pois continua vivo no meu coração”.
    Na célebre entrevista à “Diretrizes” de Samuel Warner, em 1943 em plena Ditadura Vargas, também afirmou: “ As democracias sempre vencem a opressão”.
    Após a queda de Vargas observou: “Pode ser fácil tirar a máquina do Estado dos trilhos da Legalidade, mas é sempre difícil fazê-la retornar aos mesmos trilhos”.
    Os pronunciamentos acima de Antônio Carlos, ao lado de outros muitos que seus biógrafos relembram, revelam bem a inteligente compreensão das coisas humanas e a presença de espírito diante dos problemas da vida.
    Relembrar Antônio Carlos Ribeiro de Andrada é mostrar as novas gerações o modelo de um político que soube ser um homem público dotado de altas qualidades para servir ao povo e a Pátria.