Jorge Paprocki nasceu em Lublin, na Polônia, em 1925. Veio acompanhando sua família para o Brasil aos 13 anos de idade, em 1937. Obteve a cidadania brasileira em 1949. Concluiu o curso de segundo grau no Colégio
Estadual de Minas Gerais, em 1949. Graduou-se em medicina pela Faculdade de Medicina da UFMG em 1955.
De 1956 a 1962 trabalhou com atendimento psiquiátrico hospitalar e ambulatorial em Juiz de Fora e em Belo Horizonte.Neste período realizou pesquisas com psicofármacos e eletroconvulsoterapia em associação com o anestesista Petrônio Boechat e com o psiquiatra Ivan
Ribeiro, de Belo Horizonte, tendo publicado em diversas revistas médicas brasileiras. Este fato contribuiu para que logo se tornasse conhecido em todo o País.
Em 1962 retornou a Belo Horizonte. Em 1963 foi nomeado Diretor Clínico do Hospital Galba Velloso. Introduziu no HGV uma série de ideias novas e de métodos modernos
assistenciais e de tratamentos em consonância com os avanços da medicina internacional aqui enumerados:
1- Terapêuticas menos rígidas para os doentes mentais;
2- Redução ao mínimo das contenções físicas;
3- Priorização da utilização de psicofármacos sobre outros métodos biológicos mais invasivos ou traumáticos;
4- Priorização das terapêuticas de ressocialização através de comunidades terapêuticas, ambientoterapia e socioterapia;
5- Suporte psicoterápico institucional, incentivo à realização de psicoterapia por parte do Corpo Clínico, incentivo à formação de psicoterapeutas com orientação psicanalítica;
6- Incentivo à utilização de Terapia Ocupacional e Praxiterapia;
7- Instituição do open-door integral;
8- Abertura das portas do hospital para jovens estudantes de medicina e estagiários de psicologia, serviço social, enfermagem, terapia ocupacional;
9- Realização de Dinâmicas de Grupo para o Corpo Clínico do HGV para aprimoramento no atendimento de pacientes e melhor relacionamento da equipe interdisciplinar;
10-Participação ativa na fundação da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) como membro da Comissão Organizadora Nacional, como presidente do Departamento de Neuropsiquiatria da AMMG, em 1966;
11- Participação ativa na criação da primeira Residência de Psiquiatria de Minas Gerais, em convênio entre a FCMMG e a Secretaria de Estado da Saúde de MG;
12-Incentivo ao Corpo Clínico do HGV nas atividades de pesquisa, ensino e publicação de trabalhos científ cos
13- Incentivo para a publicação do primeiro livro sobre Psicofármacos no Brasil (1969) e da Revista do CEGV (1969), após lacuna de vários anos em MG, sem periódicos de psiquiatria;
14- Participação ativa, ao lado de Fernando Megre Velloso, e a decisiva iniciativa do prof. Clóvis Salgado da Gama, então Secretário de Estado da Saúde do Governo Israel Pinheiro, na criação da Fundação Estadual de
Assistência Psiquiátrica (FEAP), baseada na Lei 4.953, de 25 de setembro de 1968 e, pelo Decreto 11.531, de 12 de dezembro de 1968;
15- Contribuição para a humanização da psiquiatria mineira com redução do número de internações hospitalares, tempo de hospitalização e redução no número de óbitos. As estatísticas entre 31/12/1968 e 31/12/1969, no Hospital Colônia de Barbacena revelam claramente isto:
– Redução do número de leitos hospitalares (número de pacientes hospitalizados) (-32,4%);
– Redução no número de admissões hospitalares (-30,7%);
– Redução do número de óbitos (-28,7%);
– Melhoria nas condições físicas dos hospitais e no serviço de hotelaria médica;
– Desenvolvimento de melhores padrões administrativos e gerenciais da assistência pública psiquiátrica;
16- Promoção de eventos científcos de âmbito municipal, estadual e nacional, como o Simpósio Sobre Depressões, organizado em março de 1970, com o apoio da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP);
17- Principal articulador para a realização do I Congresso Mineiro de Psiquiatria, antigo projeto dos psiquiatras mineiros. Teve como parceiros a
RP-FCMMG, a FEAP, o DNP-FMUFMG, o DNP-AMMG, além de diversos centros de estudos vinculados a hospitais particulares de Belo Horizonte
(Casa de Saúde Santa Clara, Casa de Saúde Santa Maria, Clínica Pinel). 26 e 29 de junho de 1970, no Grande Hotel de Araxá. O temário ofcial: “Assistência Psiquiátrica”. Na sequência do I Congresso, também foi o
principal articulador para a realização do II Congresso Mineiro de Psiquiatria, em setembro de 1971, em Caxambu, Minas Gerais;
18- Contribuição substancial para a criação da Associação Mineira de Psiquiatria (AMP), em 20 de novembro de 1970.

No Quadro I podem ser comparados os números das publicações científcas de autores mineiros (segunda coluna) com os números de publicações dos autores oriundos do HGV durante o período em que ali trabalhou, dirigiu e orientou Jorge Paprocki (terceira coluna). Na coluna da direita observa-se o percentual de publicações deste grupo em comparaçãocom as publicações de todos os autores mineiros. Observa-se que até o fnal da década de 1970 a maioria dos trabalhos científcos psiquiátricos produzidos em Minas Gerais era proveniente de profssionais que trabalharam com

Quadro I
Publicações de trabalhos científcos por psiquiatras mineiros em décadas
Publicações de mineiros Corpo clínico do HGV %
1960/1969 64 33 51,6
1970/1979 71 42 59,2
1980/1989 39 15 38,5
1990/1999 126 50 39,7

No decorrer de sua brilhante carreira, Jorge Paprocki teve participação também nas seguintes atividades:
Cento e oitenta (180) conferências, cursos, mesas redondas e seminários, em congressos psiquiátricos nacionais e internacionais;
• Coordenador e participante de dez pesquisas multicêntricas internacionais, com psicofármacos fase II e III, realizadas no Hospital Galba Velloso no período de 1965 a 1970;
• Autor de oitenta artigos de psiquiatria e psicofarmacoterapia, publicados em revistas psiquiátricas nacionais e internacionais;
• Autor de dez capítulos de livros de psiquiatria.
Entre os muitos títulos e homenagens recebidos por Jorge Paprocki podem ser citados:
• Membro honorário da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) em 1987;
• Comenda André Roiz da Associação Mineira de Psiquiatria (AMP) em 1993;
• Título de Cidadão Honorário de Belo Horizonte, outorgado pela Câmara Municipal, por serviços prestados à cidade em 1999;
• Membro Honorário da Associação Acadêmica Psiquiátrica de Minas Gerais (AAPMG), fliada à ABP, em 2002;
• Membro Titular da Academia Mineira de Medicina (AMM) em 2004;
• Comenda Palma Acadêmica da Academia Mineira de Medicina (AMM) em 2005;
• Membro Titular do Instituto Mineiro da História da Medicina (IMHMMG) em 2006;
• Homenageado com emissão de selo comemorativo, pela diretoria da Associação Acadêmica Psiquiátrica de Minas Gerais (AAPMG), pelo transcurso de 40 anos da fundação da primeira Residência de Psiquiatria do estado de Minas Gerais em 2009;
• Promovido a Membro Emérito da Academia Mineira de Medicina (AMM) em 2010;
• Medalha Israel Pinheiro, do Instituto Histórico e Geográfco de Minas Gerais (IHGMG), em 2011;
• Título de Personalidade Médica Mineira 2012, outorgado por AMMG, CRMMG e SINMEDMG;
• Comenda “Honra a Ética”, concedido pelo CRMMG, em 2012;
• Criação do “Diploma ao Mérito Jorge Paprocki”, pela AAPMG, para homenagear psiquiatras mineiros, destacados em 2013.
• Comenda de Membro Fundador da Associação Brasileira de Psiquiatria em 2013.

Em 2004, Jorge Paprocki foi eleito para a Cadeira de número 99 da Academia Mineira de Medicina, cujo Patrono, Nagib Abdo, fora seu mestre no Instituto Raul Soares no início da década de 1950. Com ele, Paprocki aprendeu a lidar com os métodos de tratamentos de seu tempo: insulinoterapia, cardiazolterapia e eletroconvulsoterapia. Jorge Paprocki faleceu em
17 de agosto de 2015 aos 89 anos, legando à psiquiatria mineira medidas que anteciparam em mais de 10 anos os movimentos de humanização da psiquiatria assistencial, um exemplo de trabalho avançado, digno, honesto,
sempre contribuindo para o progresso de sua especialidade através de uma brilhante e fértil vida profssional. Legou-nos o modelo de cidadão exemplar.

Fontes:
CENTRO DE ESTUDOS GALBA VELLOSO. Rev do Centro de Estudos Galba Velloso. 1(2)95-98, 1970.

CORRÊA, A.C.O. Breve história da psiquiatria mineira. Belo Horizonte: Editora 3i, 2018, pp.318-323.