Início Cadeira 80 Humberto de Oliveira Ferreira

Humberto de Oliveira Ferreira

Ocupou a , no período de 10/05/1971 até 02/04/2002.

Humberto de Oliveira Ferreira nasceu no dia 3 de junho de 1916, em Uberaba, no Triângulo Mineiro. Foi alfabetizado por sua mãe e, após fazer um teste de avaliação para determinar a série em que iria estudar, foi matriculado na 3ª série do Curso Primário do Colégio Diocesano de Uberaba, onde também cursou o Ginásio, sempre com distinção.
Quando ainda estava no 5º ano, resolveu seguir a Medicina. Assim, após concluir o ginásio, foi para o Rio de Janeiro fazer o Curso de Medicina na Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Embora não tivesse feito o “Pré-médico” – preparatório para o curso de Medicina – foi aprovado em 9º lugar. No curso de Medicina, nunca fez exame final, pois era sempre aprovado anteriormente, dado ao seu esforço e estudo. No sexto ano, foi o único aluno aprovado com distinção em Clínica Médica, entre 170 estudantes. Graduou-se em 1938, e permaneceu no Rio de Janeiro
por mais dois anos para se especializar em Pediatria.
Acometido por uma doença grave, foi obrigado a esperar por mais dois anos após sua formação, quando foi trabalhar em Uberaba, no Hospital da Criança. Desde
essa época, entristecido pela freqüência com que diagnosticava a doença de Chagas na fase aguda, às vezes até em lactentes, bem como pela impotência que lhe atingia por não ter condições de oferecer nada aos seus pacientes que a combatesse, voltou seu interesse para a pesquisa sobre a doença. Iniciou objetivamente seus experimentos em 1961, com a utilização de Nitrofurazona
em um caso agudo. Em 1962, obteve a cura de um caso extremamente grave, que se tornou o primeiro caso de cura de doença de Chagas na fase aguda registrado
na literatura médica. Com a suspensão da fabricação da Nitrofurazona e lançamento de outros medicamentos no mercado, Humberto Ferreira continuou suas pesquisas
utilizando, inicialmente, Lampit, que, embora melhor tolerado que a Nitrofurazona, ainda era bastante tóxico. Posteriormente, com a sintetização do Benzonidazol, foi o primeiro a empregar este medicamento no homem, conseguindo estabelecer a melhor dose dessa droga em crianças. O resultado foi que conseguiu obter a cura em 70% dos casos agudos da doença de Chagas.
Seu trabalho como pesquisador nesta área, além da gratificação pessoal, não lhe rendeu nada. Nunca recebeu ajuda governamental, tampouco de laboratórios farmacêuticos, cujo apoio se baseava, algumas vezes, no pagamento de exames complementares realizados em Uberaba. Pelo contrário, gastou muito de seus próprios
recursos nos ensaios terapêuticos, especialmente porque a doença acometia preferencialmente a criança pobre, habitante de áreas periféricas e com pais paupérrimos.
Recebeu, entretanto, como compensação pelo seu trabalho, a distinção da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical de figurar entre o pequeno grupo de pesquisadores
selecionados para receber medicamentos novos que merecessem ser testados no tratamento da doença de Chagas. Ainda, como recompensa, recebeu por duas
vezes a Medalha Carlos Chagas, conferida pelo Governo do Estado de Minas Gerais; e pôde ver seus esquemas terapêuticos completamente aceitos e difundidos por todo
o país.
Não bastasse a relevância de Humberto Ferreira como pesquisador, destaca-se a excelência de sua relação com o paciente. Doutor Humberto foi um médico como poucos, um pediatra como raros (obteve seu Título de Especialista em 1969).
Dedicou-se com profusão a aliviar o sofrimento daqueles que lhe acorriam. Apesar de ser pediatra, também atendia os adultos que muitas vezes o procuravam por não
ter a quem recorrer. Sua média de trabalho diário nunca foi inferior a 14 horas. Nunca se preocupou com dinheiro e com os benefícios materiais que deste resultam. Seu
interesse maior foi sempre ajudar o doente.
O reconhecimento de seus pacientes era o melhor presente que poderia receber em troca de sua atenção. Foi médico voluntário do Hospital da Criança, em Uberaba, por mais de 50 anos. Aos 82 anos de idade, doutor Humberto continuava atendendo diariamente em seu consultório, situado ao lado de sua casa. Pela sua dedicação e
desprendimento, foi alvo de inúmeras manifestações de agradecimento e gratidão da sociedade de sua terra natal.
Humberto Ferreira sempre gostou de lecionar. Foi professor de Farmacologia e Terapêutica na Escola Frei Eugênio, de 1948 a 1950, primeiros anos desta instituição.
No mesmo educandário, ainda foi professor de Pediatria e Puericultura, de 1951 a 1965.
Atuou como professor de Antropologia e Etnografia do Curso de Geografia e História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino, de 1951 a 1952. E, por 25 anos, a partir de 1968, foi professor Catedrático de Clínica Pediátrica Médica e Higiene Infantil da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. Como reconhecimento de seus alunos, foi paraninfo três vezes de formandos desta Faculdade, nos anos de 1962, 1964 e 1971.
No âmbito associativo, Humberto Ferreira também teve destaque. Presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia de Uberaba, em 1965. Foi sócio-fundador da Sociedade
Brasileira de Medicina Tropical e fundador e primeiro presidente da sub-regional desta entidade em Uberaba (1983).
Ocupou a cadeira de número 80 da Academia Mineira de Medicina, a qual lhe conferiu, em 1999, a láurea “Palma Acadêmica”, maior outorga conferida pela instituição.
Foi homenageado pela Associação Médica de Minas Gerais, que lhe concedeu o Diploma de “Honra ao Mérito”, em 1988. Recebeu a Medalha “Major Eustáquio”, concedida pela Câmara Municipal de Uberaba, em 1989. E, ainda, foi agraciado com o título “Companheiro Paul Harris”, conferido pela Fundação Rotária do Rotary Internacional,
em 1993.
Em 1993, recebeu o título de “Professor Emérito” da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro e, em 2000, recebeu da Universidade de Uberaba o título de “Professor Honoris Causa”, em reconhecimento “aos relevantes serviços prestados à comunidade, servindo à causa da ciência e do ensino superior.”
Entre seus trabalhos científicos, teve 28 publicados e 94 apresentações em congressos.
Realizou oito pesquisas, mais especificamente na área da Doença de Chagas.
Segundo depoimento de Dona Nívea Pinto Ferreira, esposa e companheira com quem teve dois filhos, Roberto e Murílio, “Humberto era um homem que viveu 80 anos
em plenitude. Gostava muito de jardinagem e tinha como hobby a fotografia.”
Falecido em 4 de julho de 2002, aos 86 anos, Humberto Ferreira deixou um grande legado às atuais e futuras gerações de pediatras: o de que acima de tudo é preciso
amor à profissão e paciência com os pacientes.

Fonte: Lincoln Marcelo Silveira Freire
Patronos da Academia Mineira de Pediatria, Sociedade Mineira de Pediatria, 2007.

Ocupantes da Cadeira 80

Emmanuel Dias

27/07/1908 02/04/1962

Humberto de Oliveira Ferreira

Posse: 10/05/1971 - 02/04/2002

João Carlos Pinto Dias

Posse: 20/10/2006 - atualmente
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